No final dos anos 80 eu vivia pelas
periferias de Parnamirim nos jogos de futebol, casas de amigos e festas... Onde
tivesse a batida de uma zabumba eu, meus amigos e primos íamos conferir.
A vida muda, e me afastei de
Parnamirim, só retornando no ano de 2007 para trabalhar com o Boi Calemba de
Mestre Elpídio, nessa época conheci os brincantes do Boi de Reis e suas
realidade sociais, na grande maioria pessoas humilde de baixa renda. Um grupo
que mesclava idosos, jovens e crianças. Além da falta de apoio tínhamos outra
dificuldade, a de reunir o grupo para os ensaios, já que alguns brincantes
viviam mudando-se de endereço. Para reparar esse problema até escrevemos alguns
dos brincantes no Conjunto dos artistas que seria construído em São Gonçalo do
Amarante, projeto que nunca saiu do papel. Infelizmente Mestre Elpídio faleceu
em janeiro de 2010, e eu me mais uma vez me afastei de Parnamirim.
Por amor ao Boi de Reis e ao compromisso
assumido com o Mestre Elpídio, ainda fizemos algumas tentativas e reviver o
grupo, mas não tivemos êxito em nossos objetivos. Já que os recursos eram
poucos e tínhamos a grande dificuldade de reunir o grupo, onde a maioria não tinha
residência fixa.
No ano de 2013 reiniciamos os
trabalhos de revitalização do Boi de Reis de Parnamirim, dessa vez com apoio da
fundação Parnamirim de Cultua, sai à procura dos brincantes do Boi de Chico do
Rancho e de Mestre Elpídio. Parnamirim
cresceu muito e a dificuldade de encontra-los era o nosso maior desfio. Alguns
deles já eram senhores de idade que nunca tiveram uma casa e viviam se
descocando a procura de um lugar mais digno e aluguel mais barato.
O primeiro que procurei foi Vicente,
que fazia o personagem de “Mateus” do Boi de Mestre Elpídio, procurei nos velhos
endereços, e nas casas de amigos e filhos, a noticia que me passaram foi a
mesma, ele mudou-se para uma casa do projeto “Minha casa minha vida”, que fica
lá próximo do “Beco do Ingole”, eu peguei o endereço na casa de um filho e fui atrás
do brincantes do Boi, mas só me recordava da época em que eu andava por aquele
local, na época era um local perigoso, a noite só andávamos em grupo por aquela
região e até evitávamos.
Receoso por esta com meu
equipamento fotográfico fui a procurar, e quando chego ao local, me deparo com
uma Parnamirim, transformada. O endereço era o “residencial, Ilhas do Atlântico”
um condomínio fechado, com Portaria, quadra de esporte, com área social e estacionamento,
próximo de outros condomínios. Foi Recebido por Vicente, o Mateus do Boi de
Mestre Elpídio, sempre com um sorriso no rosto me pediu para eu entrar e
conhecer a sua nova casa, alguns problemas eram visíveis, principalmente na
instalação hidráulica, mas a realidade era que ele não pagava mais aluguel,
agora pagava um valor bem mais barato e de sua própria casa. Em nenhum momento
escondeu a felicidade de esta morando no que era seu e não precisar esta se
mudando de um canto para outro.
Encontramos outros brincantes e fizemos
nossa parte de mapeamento do Boi de Reis de Parnamirim, as primeiras reuniões
foram no próprio residencial. Infelizmente o projeto parou, mas não demos por
vencido, assim que tivermos estruturado voltaremos para honrar o compromisso
firmado com Mestre Elpídio e agora fica mais fácil, hoje sabemos onde encontrar
nossos brincantes.