sábado, 22 de dezembro de 2012

INDÍGENAS DO AMARELÃO, UM POVO ESQUECIDO PELOS NOSSOS GOVERNANTES!


Conheci a comunidade indígena do Amarelão no inicio dos anos 90, na época me deparei com os caboclos trabalhando em uma padaria. Estavam tirando uma bandeja de pão do forno, não me recordo se era a primeira fornada, mas a alegria e o entusiasmo eram como que fosse.
Se a memória não me trai, quem nos apresentou os avanços na comunidade foi Titinho, um dos líderes da comunidade.
Ele nos levou para conhecer a produção de castanha. O que muito me impressionou.
O processo de produção da castanha era todo mecânico, as maquinas operadas manualmente estavam montadas em umas baquetas em um galpão.
A castanha era extraída inteira com um corte na casca. Segundo um dos Mendonça que também nos acompanhava, o método utilizado fora criado para o reaproveitamento da casca, dela futuramente seria extraído um óleo mais caro que a castanha.
Esse modo de produção utilizado pelos Mendonça nos anos 90 era diferente do modo tradicional de assar castanha.
A produção de castanha artesanal é feita de forma primitiva, um fogo no chão, três pedras para equilibrar o caco de metal ou barro aonde a castanha vai sê colocada para assar.
Rapidamente o fogo toma conta de tudo e em poucos minutos as chamas tem que serem apagadas.
A casca da castanha vira carvão e depois de fria é quebrada para extraír a castanha assada.
Nessa época eu estava fazendo um trabalho para o MST e os Mendonça (família que deu origem ao Amarelão), estava sendo recrutados para ocuparem as terras onde hoje é o assentamento Santa Terezinha.
No ano de 1995 quando eu fazia uma cobertura fotográfica para o MST, fui alvejado por um tiro na perna em uma reintegração de posse de terra na fazenda Vale da Esperança em Rio do Fogo/RN.
Um ano de cama, muito confuso com a violência no campo, ameaçado de morte e depois meu afastado do MST por não concordar com atitudes de alguns lideres da época. Mesmo visitando os amigos acampados e assentados me afastei naturalmente de algumas comunidades.
No ano de 2001, a convite do professor Aucides Sales e depois da antropóloga Jussara Galhardo eu volto a frequentar o Amarelão.
As coisas estavam diferentes, Titinho o líder que eu conheci nos anos 90 fora assassinado em frente a sua casa, a padaria e a fabrica de castanha tinha se acabado.
Muito tinha mudado... As famílias não produziam a castanha na associação e sim nos terreiros improvisados de suas casas.
Nos anos 90 fui fotografar a associação e as ações do MST. Em cada vida presenciei uma realidade diferente das famílias que ali moravam.
Em uma tarde, as lembranças dos anos 90 foram substituídas por imagens fortes principalmente de jovens e crianças em idade escolar trabalhando para atravessadores.
A produção artesanal da castanha exige que as famílias produzam juntas, não sendo preservados nem as crianças. Daí brota os problemas sociais como a falta às aulas, o abandono da escola por parte das crianças e jovens.
Além dos problemas ambientais como a poluição do ar a queima da castanha causa doenças respiratórias em crianças e idosos.
O Amarelão é uma das comunidades indígenas que junto com outras quatro que também são reconhecidas pelas instituições indígenas e governamentais pedem demarcação de suas terras no Rio Grande do Norte.
Infelizmente os Mendonça e as outras famílias que pedem o reconhecimento, vivem no esquecimento dos governantes e amargam a morosidade da justiça.


UM POCO DE HISTORIA

Segundo os moradores mais antigos os Mendonça são descendentes da etnia Potiguara do Brejo de Bananeiras da Paraíba e vieram dessa região há mais de dois séculos.
Nessa época eles migraram da Paraíba para o Rio Grande do Norte, por motivos ocasionados pelas epidemias de cólera, secas, expansão colonial e etc.
Segundo afirmação de Tayse Campos líder da comunidade o nome “Amarelão” vem de um antigo ritual que os Mendonça praticavam na Serra do Torreão (Serra próxima da comunidade).
Esse ritual se dava por volta das três horas da manhã, quando eles subiam a serra e aguardavam a chegada do Sol. Depois de contemplar o nascimento do Sol, eles cantavam e dançavam na descida da serra, pois tinham ido buscar o “Amarelão”. E isso traria sorte para a Aldeia.
Os Mendonça, embora ocupem espaços diferentes, ampliaram as redes de parentesco, incluindo novos valores culturais sem no entanto, perderem os laços de afinidade.
Esse grupo familiar se expandiu para outras localidades a exemplo do Assentamento Santa Terezinha que foi o fruto da luta dos Mendonça e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST) na década de 90.
A família se expandiu para o Serrote de São Bento, Cachoeira (Nova Descoberta) e até em Natal, em Cidade-Praia ou Amarelão Novo na Zona Norte.