Conheci
a comunidade indígena do Amarelão no inicio dos anos 90, na época me deparei
com os caboclos trabalhando em uma padaria. Estavam tirando uma bandeja de pão
do forno, não me recordo se era a primeira fornada, mas a alegria e o
entusiasmo eram como que fosse.
Se
a memória não me trai, quem nos apresentou os avanços na comunidade foi Titinho,
um dos líderes da comunidade.
Ele
nos levou para conhecer a produção de castanha. O que muito me impressionou.
O
processo de produção da castanha era todo mecânico, as maquinas operadas
manualmente estavam montadas em umas baquetas em um galpão.
A
castanha era extraída inteira com um corte na casca. Segundo um dos Mendonça
que também nos acompanhava, o método utilizado fora criado para o
reaproveitamento da casca, dela futuramente seria extraído um óleo mais caro
que a castanha.
Esse
modo de produção utilizado pelos Mendonça nos anos 90 era diferente do modo tradicional
de assar castanha.
A
produção de castanha artesanal é feita de forma primitiva, um fogo no chão,
três pedras para equilibrar o caco de metal ou barro aonde a castanha vai sê
colocada para assar.
Rapidamente
o fogo toma conta de tudo e em poucos minutos as chamas tem que serem apagadas.
A
casca da castanha vira carvão e depois de fria é quebrada para extraír a castanha
assada.
Nessa
época eu estava fazendo um trabalho para o MST e os Mendonça (família que deu
origem ao Amarelão), estava sendo recrutados para ocuparem as terras onde hoje
é o assentamento Santa Terezinha.
No ano de 1995 quando eu fazia uma cobertura fotográfica para o
MST, fui alvejado por um tiro na perna em uma reintegração de posse de terra na
fazenda Vale da Esperança em Rio do Fogo/RN.
Um ano de cama, muito confuso com a violência no campo, ameaçado
de morte e depois meu afastado do MST por não concordar com atitudes de alguns
lideres da época. Mesmo visitando os amigos acampados e assentados me afastei
naturalmente de algumas comunidades.
No ano de 2001, a convite do professor Aucides Sales e depois da
antropóloga Jussara Galhardo eu volto a frequentar o Amarelão.
As coisas estavam diferentes, Titinho o líder que eu conheci nos
anos 90 fora assassinado em frente a sua casa, a padaria e a fabrica de
castanha tinha se acabado.
Muito tinha mudado... As famílias não produziam a castanha na
associação e sim nos terreiros improvisados de suas casas.
Nos anos 90 fui fotografar a associação e as ações do MST. Em
cada vida presenciei uma realidade diferente das famílias que ali moravam.
Em uma tarde, as lembranças dos anos 90 foram substituídas por
imagens fortes principalmente de jovens e crianças em idade escolar trabalhando
para atravessadores.
A produção artesanal da castanha exige que as famílias produzam
juntas, não sendo preservados nem as crianças. Daí brota os problemas sociais
como a falta às aulas, o abandono da escola por parte das crianças e jovens.
Além dos problemas ambientais como a poluição do ar a queima da
castanha causa doenças respiratórias em crianças e idosos.
O
Amarelão é uma das comunidades indígenas que junto com outras quatro que também
são reconhecidas pelas instituições indígenas e governamentais pedem demarcação
de suas terras no Rio Grande do Norte.
Infelizmente
os Mendonça e as outras famílias que pedem o reconhecimento, vivem no
esquecimento dos governantes e amargam a morosidade da justiça.
UM POCO DE HISTORIA
Segundo os
moradores mais antigos os Mendonça são descendentes da etnia Potiguara do Brejo
de Bananeiras da Paraíba e vieram dessa região há mais de dois séculos.
Nessa época
eles migraram da Paraíba para o Rio Grande do Norte, por motivos ocasionados
pelas epidemias de cólera, secas, expansão colonial e etc.
Segundo afirmação de Tayse Campos líder da comunidade o nome “Amarelão” vem de um antigo ritual que os Mendonça
praticavam na Serra do Torreão (Serra próxima da comunidade).
Esse ritual
se dava por volta das três horas da manhã, quando eles subiam a serra e
aguardavam a chegada do Sol. Depois de contemplar o nascimento do Sol, eles
cantavam e dançavam na descida da serra, pois tinham ido buscar o “Amarelão”. E
isso traria sorte para a Aldeia.
Os Mendonça,
embora ocupem espaços diferentes, ampliaram as redes de parentesco, incluindo
novos valores culturais sem no entanto, perderem os laços de afinidade.
Esse grupo
familiar se expandiu para outras localidades a exemplo do Assentamento Santa
Terezinha que foi o fruto da luta dos Mendonça e do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terras (MST) na década de 90.
A família se
expandiu para o Serrote de São Bento, Cachoeira (Nova Descoberta) e até em
Natal, em Cidade-Praia ou Amarelão Novo na Zona Norte.